Aviso à navegação: este post é incrivelmente longo, leiam se tiverem paciência.
Tal como tinha mencionado no dia 27 de Dezembro fui pelas 9h, depois de ter acordado pelas 5h e já não ter conseguido voltar a dormir, a mais uma consulta na MAC, era a terceira consulta e eu que pensei que não precisasse mais do que uma…
A recepção das consultas estava completamente cheia, pois não tinha havido consultas nem no dia 25, nem no dia 26, então havia ali imensas grávidas. Estive à conversa com uma que estava grávida de 37 semanas e que me dizia que não ia aguentar até às 40 semanas e eu respondi-lhe que eu também dizia isso e ali estava eu, já nas 40 semanas e um dia. Depois encontrei uma colega das aulas PPP, que ainda tinha mais 2 dias de gestação do que eu…
Lá fui fazer o CTG, que não diagnosticou grandes contracções e de resto estava tudo normal, mas mais uma vez a minha tensão estava nos 9,5/13. Depois do CTG fui comer, antes que me acontecesse a mesma coisa do que na semana anterior, mas rapidamente fui chamada por uma médica. Mesmo antes de fazer um novo toque, ela disse-me logo que já não ia sair de lá e que me iam induzir o parto, pois a tensão alta era perigoso para o bebé e para a mãe e que já lá devia era ter lá ficado na semana anterior.
Desta vez eu já me tinha mentalizado que a probabilidade de isso acontecer era bastante grande, pelo que estava já psicologicamente preparada para isso. Quando me fez o toque disse-me logo que estava tudo bem encaminhado e que ia ser fácil. Perguntei-lhe se já tinha o apagamento completo, ela disse-me que sim.
Fui fazer análises, avisei o L. que o filho ia nascer muito em breve e avisei a Gio que já não saia da MAC naquele dia. Voltei às consultas para entrar para o internamento.
Já almocei na enfermaria 116, com direito à cama 2. A minha mãe, levou quase todos as minhas coisas, com excepção dos ÓCULOS, que esses ficaram sempre na minha cara e o anel de curso que não consegui tirar…
Cerca das 14h ligaram-me ao CTG e mesmo antes de começaram a indução do parto, o CTG já acusava grandes contracções. Um médico veio ver-me e perguntou-me:
- A senhora está com contracções, não lhe dói nada?
- Doer dói… mas nada de especial, estas dores já as sinto há umas semanas e são perfeitamente toleráveis.
Lá tive direito a mais um toque… Quase três cm de dilatação, sem ter ainda começado a indução.
Isto pode parecer parvo, mas aquilo que mais me custou foram os toques e quando me introduziram a agulha para me colocarem o soro e a hormona de indução das contracções… é que fui espetada três vezes e uma das picadelas ainda tem mazelas negras!
A indução começou então a ser feita e as horas foram passando, ao meu lado tive sempre a minha mãe e depois chegou o L.
A certa altura acho que perdi um pouco a noção das horas. Fizeram-me a tricotomia e houve pelo mais um toque, que foi bastante doloroso, pois não se tratou de um simples toque, a enfermeira que até era uma querida, esteve a ajeitar a cabeça do bebé, para que ele saísse direitinho (e agora pergunto-me eu para quê…). Aguardei mais algum tempo na enfermaria e as contracções começaram a ser mais, mas eu mantive a calma e respirava tal como aprendi nas aulas PPP, sempre que vinha uma.
Depois a tal enfermeira veio buscar-me para ir para o bloco de partos, porque lhe disse que as dores estavam a aumentar e senti alguma vontade de fazer força, pois as contracções já me estavam a apanhar os rins, mesmo não havendo lá nenhuma box disponível na altura, o maqueiro perguntou-lhe se era mesmo para me levar porque não havia disponibilidade e ela respondeu-lhe que não queria saber disso para nada, que não havia, mas tinham de arranjar! :P
Chegada ao bloco de partos fui para o quarto n.º 7, onde estava a cadeira de nascimento, pouco usada, claro está, porque não nos deixa levar epidural. Mais um toque e ao que parece a dilatação não estava a avançar como eu pensava, apenas 4 cm.
No entanto era altura de levar a epidural. O anestesista foi um querido, espectacular mesmo! Explicou-me tudinho, tim-por-tim, o que ia fazer e como me ia sentir! E o mais engraçado é que me tratava por doutora, terá sido por causa do anel que não consegui tirar ou pela ficha interna?
A verdade é que a epidural me aliviou um pouco, pois as contracções começam a atingir-me fortemente os rins, mas ainda assim posso dizer que sempre pensei que fosse bem pior, é claro que dói, mas não é uma dor insuportável (experimentem ser picados por um peixe aranha, para ver o que é uma dor valente!)
Mas eu desconhecia um dos efeitos imediatos da epidural: uma comichão idiota pelo corpo todo! Perguntei depois a uma médica se era normal e a resposta dela foi esta:
- Nós aqui temos dois pacotes para os partos, um com dor e outro com comichão, a si calhou-lhe o da comichão!
É claro que ainda nos rimos!
Mais um toque por outro médico e deu-me 3 cm de dilatação e eu disse-lhe:
- Três? Mas só três? Ainda há pouco tinha 4 e agora regrediu?
- Não se preocupe com isso, depende de quem mede! – foi a resposta descontraída dele.
Nessa altura já me tinham levado para uma box como deve ser, o quarto n.º5, onde estava individualizada. A minha sogra apareceu lá e esteve ali comigo até que uma equipa de médicos foi lá ao quarto. Foram rebentar-me a bolsa de águas e a partir daqui é que as coisas começaram a descambar…
A epidural começava a fraquejar e a deixar de fazer o efeito inicial, solicitei um reforço, mas acho que foi mais para fora do que para dentro, pois aquilo espirrou tudo! Fiquei novamente sozinha e entretanto as dores começaram a aumentar. Eu estava virada de costas para o CTG e continuava a ouvir o coração do Gil… A cada contracção sentia água a sair e sentia-me quase numa piscina! Essa sensação de facto não a recordo com grande entusiasmo!
Só sei que a partir desta altura, a cada contracção que tinha, ouvia o batimento cardíaco do Gil a desacelerar, aquilo começou a preocupar-me toquei à campainha. As contracções começaram a ser cada vez mais dolorosas e eu estava a tentar fazer a respiração certinha, mas ao lado estava alguém que não parava de gritar e aquilo estava a enervar-me imenso, devia ser alguém que não tinha mesmo ido às aulas PPP, pois em vez de respirar na altura das contracções gritava “ai, ai, ai, aiiiiiiiiii”.
E a cada contracção mais uma desaceleração do Gil, toquei novamente e ninguém vinha. Mais alguns minutos e voltei a tocar. O L. apareceu naquela altura crítica, eu estava a começar a ficar assustada e já tinha a respiração meio descontrolada e disse-lhe:
- Chama alguém, acho que algo não está bem com o bebé!
Em menos de um minuto tinha o quarto cheio de médicos, a gritarem que era uma desaceleração e que tínhamos de ir imediatamente para o bloco, no quarto 3 estava a acontecer a mesma coisa. Passaram-me para uma maca e eu percebi que ia fazer cesariana, embora ninguém mo tivesse dito, o L. nem se apercebeu do que estava a passar, coisa que confirmei depois.
Só percebeu que era cesariana, mas ninguém lhe explicou o porquê e no dia seguinte toda a gente pensava que tinha sido por eu não estar a fazer dilatação, mas naquela altura já tinha feitos quase 6 cm de dilatação.
Entretanto, alguém me dizia que estava tudo bem para eu ficar calma, mas acham que alguém ficaria calma nesta situação? Lá se foi a respiração certinha…
Em menos de 5 minutos estava no bloco operatório, disseram-me que me iam dar uma anestesia geral e assim foi. Amarram-me os dois braços e ambas as pernas. Verificaram a epidural e ainda senti o corte na barriga, embora sem qualquer dor associada, meteram-me a máscara de oxigénio e eu já nem conseguia respirar!
Devem ter passados uns 10 minutos, pelo que me disseram e quando eu abri os olhos, foram logo buscar-me o Gil! Já estava limpinho e embrulhadinho. Solicitei que me colocassem os óculos que estavam ao meu lado… eu avisei que não os ia deixar! :P Olhou para mim com os seus olhos muito abertos e ainda de um azul leitoso, beijei-o e senti que o amava muito mais, do que quando estava dentro de mim!
Perguntei-me como tinha conseguido fazer uma coisa tão linda e como ele tinha cabido dentro de mim…
Alguém me disse que ele tinha os olhos mesmo azuis, coisa que achei estranho… Deram-me os parabéns e eu agradeci, disseram que eu me tinha portado bem (será que portei mesmo?) e que estava tudo bem. O L. aguardava-nos lá fora.
Entretanto eu desatei a fazer perguntas e os médicos deviam pensar que eu devia ser maluquinha de todo ou que tinha engolido os manuais de parto inteirinhos! ;)
Entre outras coisas, lembro-me de ter perguntado logo qual tinha sido o índice de Apgar dele, só me disseram que estava tudo bem (mais tarde confirmei que teve nota 10 tanto no 1º minuto como no 5º). Perguntei se a placenta já tinha saído toda, responderam-me que sim, perguntei se podia dar de mamar, disseram-me que não, por ter sido cesariana… :(
A anestesia ainda se fazia sentir e eu estava um pouco baralhada das ideias e claro, o meu corpo ainda não respondia convenientemente.
Se ao principio achava que a cesariana seria mais fácil, depois de estar tão mentalizada para um parto normal, fiquei com pena de não ter visto o Gil logo quando nasceu e ainda mais, de não ter ficado com ele logo durante a noite, pois ele foi para o berçário e eu para a sala de recobro até às 4h da manhã.
Mal saí do bloco operatório o L. esperava-nos ansiosamente. Quando olhou para ele, disse logo “Oh! Tão giro!” E eu percebi que ele tinha deixado cair por terra, a teoria que os recém-nascidos são todos feios! LOL
É que ele e o meu irmão partilham dessa opinião, mas modéstia à parte o meu filhote é lindo e logo que o vi, como já disse, fiquei apaixonada!
Ele estava enroladito num cobertor ao meu lado, choramingava e eu falava com ele e ele acalmava-se, mas sempre que choramingava deitava a cabecita de fora, parecia que queria que o papá o visse melhor… Não há palavras que possam descrever este momento que fica gravado para sempre nas nossas memórias e no nosso coração!
Infelizmente o L. teve muito pouco tempo connosco, apenas uns minutos e não mais do que isso. Eu comecei a tremer devido à anestesia e levaram-me para o recobro. Tremi, tremi, tremi… durante cerca de uma hora e meia, não tinha frio, mas ao que parece era mais um efeito da anestesia. Tive algumas dores que ainda pareciam contracções e sentia o sangue a correr quando essas dores vinham, mas de uma forma perfeitamente normal.
Perguntei se podia comer, pois já não via comida desde o almoço e era mais ou menos meia-noite, disseram-me que não, que apenas podia beber água, o que eu agradeci.
Já na enfermaria 110, com a cama n.º6, tive de esperar pelas 7h30 para comer e pelas 8h30 para ver novamente o meu bebé. E mais uma vez percebi o quanto ele era lindo e quanto eu o amava! É indiscutível que ao pé do nosso filho os outros são sempre mais feios e ele é sempre o mais bonito, mesmo que isso nem seja verdade, é assim que os olhos de mãe vêem!
As duas primeiras noites foram terríveis ele teve cólicas e não me deixou dormir quase nada e eu que já ia com uma directa do dia em que ele nasceu… na segunda noite era mais fome, porque o meu leite ainda não tinha subido e ele não estava satisfeito só com o colostro.
Só tenho a dizer bem do pessoal de lá, na primeira noite apanhei uma enfermeira espectacular, esteve imenso tempo a falar connosco (comigo e com outra moça que estava ao meu lado) e ensinou-me como acalmá-lo e a verdade é que resulta!
Mas quando não era ele que chorava eram os outros bebés. Chegámos a estar 8 parturientes e 9 bebés na mesma sala (havia um casalinho de gémeos). O cansaço que ainda sinto vem desses dias, mas ao olhar para o meu menino tudo isso é hoje irrelevante!
Regressámos a casa no dia 30 pelas 19h, quando obtive alta. Vínhamos felizes por já termos junto de nós o nosso bebé. O L. revelou-se ser um pai amoroso e tem-me apoiado no que pode.
A chegada a casa foi algo difícil para mim, logo que vi o Patrick vieram-me as lágrimas aos olhos, pois os miados dele comoveram-me, não me via há três dias e deve ter pensado que eu o abandonei, ao final de cerca de uma hora é que percebeu que havia algo novo cá em casa, ficou cheio de medo! Ainda hoje quase nem vai ao quarto, parece ter algum receio daquela coisinha nova, mas acho que já se está a habituar aos poucos…
A noite da passagem de ano foi passada em casa do meu irmão, a minha sobrinha está agora com 14 meses e está uma maluca de todo, só quer é farra e folia! Quando descobriu o primo dentro do ovo, decidiu ir-lhe roubar a chucha!
É engraçado que eles têm precisamente 14 meses de diferença, eu e o meu irmão temos também 14 meses de diferença, com menos um dia e casámos quase com 14 meses de diferença, a minha mãe diz que planeámos tudo, mas aconteceu tudo sem que tivéssemos feito por isso! :P
O Gil acordou quando faltavam 5 minutos para a meia-noite e eu e o L. nessa altura estávamos tão entretidos a olhar para o nosso menino, que esquecemos o mundo à nossa volta! Meu filho que este ano de 2007 te traga tudo de bom e que o facto de estares na nossa vida seja desde já um motivo de comemoração!
A única preocupação que tivemos com ele até agora foi a de não fazer cocó no dia em que veio para casa e no dia seguinte, mas como isso já tinha acontecido no dia anterior à nossa saída, eu tinha falado com uma enfermeira e tinha-lhe perguntado como havia de o estimular sem ter de usar o bebegel, que pelos vistos causa habituação e fiz direitinho o que me ensinaram e desde então essa é menos uma preocupação!